Sucesso!
Esta página foi lançada em abril de 2012 para a campanha da Survival para salvar os Awá. Dois anos depois a Survival, os Awá e nossos apoiadores celebraram quando a campanha alcançou a vitória o governo brasileiro iniciou uma operação para expulsar madeireiros ilegais do território dos Awá.
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‘Na cidade, sentimos a mesma insegurança que os brancos sentem na floresta,’
diz Lâmina, um homem Awá. Mas as densas florestas da Amazônia que cobriam vastas áreas do nordeste do Brasil, praticamente desapareceram. Não para serem substituídas por cidades, mas por um terreno baldio de fazendas de gado aparentemente intermináveis. O remanescente dessas grandiosas florestas, algumas das mais antigas em todo o mundo, é onde os povos indígenas têm resistido ao avanço dos fazendeiros e madeireiros.
Esta é a história de um povo, os caçadores-coletores Awá, e sua relação extraordinária com a floresta. Uma história de resistência, de destruição, de esperança e, talvez, de sobrevivência.
Caçar é prioridade na mente da maioria dos Awá.
‘Se meus filhos estão com fome, eu só preciso ir para a floresta e posso encontrar alimentos para eles’, diz Caititu Awá. Mulheres encorajam seus maridos a retornar com carne de caça abundante, e os homens obedecem. Os Awá que ainda vivem sem contato caçam na floresta com arcos de 2 metros de comprimento. Flechas voam alto e silenciosamente para a copa da floresta, permitindo que vários tiros sejam feitos antes que a caça perceba a presença dos caçadores.
Alguns Awá contatados confiscaram espingardas de caçadores ilegais e tornaram-se atiradores experientes. Mas cada caçador mantém um arco bem feito a mão e um conjunto de flechas para quando a munição acabar.
Comida proibida
A floresta fornece a sua riqueza, mas nem tudo é levado. Alguns animais, como a capivara e a harpia, são tabu e os Awá não os comem. Acredita-se que comer morcego causa dor de cabeça. O gambá grande? Mal cheiro. Beija-flores? Pequenos demais. Outros animais são caçados apenas em determinadas épocas do ano. Deste modo, os Awá asseguram a sobrevivência de toda a floresta, e a sua própria.
Caçadores contra agricultores
Os Awá conhecem profundamente suas florestas. Todos os vales, igarapés, e trilhas estão inscritos em seu mapa mental. Eles sabem onde encontrar o melhor mel, quais árvores grandes na floresta estão produzindo frutas, e quando os animais estão pronto para serem caçados. Para eles, a floresta é a perfeição: eles não podem imaginar o seu desenvolvimento ou melhoria.
‘Os invasores estão chegando, e a nossa floresta está sendo engolida’, diz Takia Awá. Para os invasores – para nós- ficar parado é ficar para trás.
A fronteira está sempre em movimento, impulsionada pelas inquietas sociedades ocidentalizadas, que adentram novas terras simplesmente para manter seu modo de viver.
Talvez seja um outro tipo de nomadismo.
Altos e baixos
Camadas espetaculares de recursos subterrâneos no Brasil têm ajudado a impulsionar seu milagre econômico. Sete bilhões de toneladas de minério de ferro repousam sob a mina de Carajás, 600 km (370 milhas) à oeste do território Awá. É a maior mina de minério de ferro do planeta. Os trens que se estendem por cerca de 2 km (1¼ milhas), alguns dos mais longos do mundo, percorrem todo dia e toda noite entre a mina e o Oceano Atlântico. Em seu caminho, eles passam a poucos metros das florestas onde ainda vivem indígenas Awá isolados.
Quando os 900km (550 milhas) de ferrovia foi construído na década de 1980, as autoridades decidiram contatar muitos dos Awá cujas terras foram cortadas pelo projeto. Logo, o desastre seguiu na forma de malária e gripe: das 91 pessoas de uma comunidade, apenas 25 estavam vivos quatro anos depois.
Hoje, a ferrovia traz invasores ávidos pela terra, trabalho e os animais de caça que são facilmente capturados nas terras do povo Awá.
Mas os invasores não necessariamente significam o fim para os Awá. Outros povos indígenas no Brasil, como os Yanomami, sofreram invasões devastadoras. Eles se recuperaram quando o governo foi pressionado a tomar medidas para proteger suas terras.
Família
‘Pomba!’ disse Periquito, uma mulher Awá. ‘Vamos chamá-la de Pomba – as pombas cantam e caminham no chão.’
Os Awá esperam para escolher os nomes de seus filhos até que atinjam uma idade em que o nome certo se apresenta. Outra filha de Periquito se chama Árvore do Mato. Uma criança Awá que se contorce muito acaba de ser nomeada Minhoca.
O povo é um guardião extraordinário de animais de estimação: na maioria das famílias tem mais animais do que pessoas: são quatis, porcos selvagens e urubus. Mas, sem dúvida, os macacos são os favoritos dos Awá.
Conheça os animais de estimação
Periquito
Os periquitos são lindos mas piam muito alto. Os Awá compartilham frutos da floresta com eles.
Macaco-prego
Os macacos-prego são um dos animais de estimação mais sapecas, e eles estão sempre brincando com os seus donos.
Cotia
As cotias são os únicos animais que podem abrir a casca dura do fruto da castanha-do-pará. Mas a sua forte mordida não impede que as mulheres Awá amamentem os filhotes.
Coruja
Estas criaturas da noite vigiam os Awá conforme eles caminham na floresta, seu caminho iluminado com a queima de resina da árvore.
Caititu
Os caititus são dóceis como bebês, mas quando crecem, são adultos fortes — com presas afiadas.
Quati
Os quatis são familiares do guaxinim. São experientes em escaladas e adoram dividir a rede com os humanos.
Mico
Os micos adoram brincar com as crianças Awá. Pequena borboleta, uma menina Awá, tem um mico de estimação, e eles gostam de fazer travessuras um com outro.
Entrando no
mundo espiritual
Você pode imaginar que um ritual realizado na floresta numa noite de lua cheia seria sinistro. Mas não a viagem dos Awá para o reino dos espíritos da floresta: esta é uma atividade de família. Conforme mulheres decoram seus maridos com penas de urubu-rei, usando resina de árvore como cola, as crianças observam.
Mais tarde, conforme os adultos cantam mais alto, e os homens viajam até o lar dos espíritos, os bebês dormem ao luar. Os Awá não usam drogas ou álcool: o mero ato de cantar deixa os homens em estado de transe.
Você pode imaginar que um ritual realizado na floresta numa noite de lua cheia seria sinistro. Mas não a viagem dos Awá para o reino dos espíritos da floresta: esta é uma atividade de família. Conforme mulheres decoram seus maridos com penas de urubu-rei, usando resina de árvore como cola, as crianças observam.
Mais tarde, conforme os adultos cantam mais alto, e os homens viajam até o lar dos espíritos, os bebês dormem ao luar. Os Awá não usam drogas ou álcool: o mero ato de cantar deixa os homens em estado de transe.
A porta para um outro mundo
Durante o ritual, os homens deixam a Terra para trás enquanto viajam para o iwa, o domínio dos espíritos da floresta. Eles chegam a este lugar por uma porta que assume a forma de um abrigo de caça, um portal entre os mundos. Os homens se revezam para entrar, e quando chegam ao iwa eles encontram as almas dos seus antepassados e os espíritos da floresta.
Awá isolados
Os Awá que vivem sem nenhum contato com pessoas de fora são algumas das últimas pessoas isoladas do planeta.
Como nômades, eles carregam o que precisam com eles enquanto se movem: arcos e flechas, crianças, animais de estimação. Tudo vem da floresta: as cestas feitas de folhas de palmeira, os cipós utilizados para subir em árvores, e a resina de árvore queimada para fornecer a luz.
As posses de um caçador nômade
Makỹa
Os Awá usam cipós para escalar as arvores mais altas da floresta, em busca de mel.
Manakũa
Após uma caçada bem-sucedida, os Awá fazem rapidamente mochilas trançadas com folhas de palmeira.
Irapara, iwya
Flechas de 2 metros de altura voam alto na copa da floresta, guiadas por penas de harpia.
Ikaha
Estas fortes redes são feitas de fibras de palmeira.
Tapãí
Os Awá nômades que ainda vivem isolados na floresta não constroem casas, porém constroem abrigos de galhos e folhas de palmeira.
A tribo mais vulnerável do mundo
Apesar da sua extrema auto-suficiência, os isolados também são especialmente vulneráveis. O resfriado comum pode matar um grupo inteiro, e se eles se deparam com madeireiros ilegais, os seus arcos e flechas não serão páreo para as armas dos invasores.INVASÃO
Os Awá isolados estão sempre se movendo entre as áreas de caça. Mas agora eles têm outra razão para se manter em movimento.
Não é apenas os Awá que apreciam as árvores gigantes da floresta: o seu território está legalmente protegido, mas quadrilhas criminosas de madeireiros ganham muito dinheiro aqui. Só a resistência dos Awá e o início da estação chuvosa atrasa o seu avanço; o governo está pouco presente na fronteira.
Hora de agir, nada a perder
O trabalho dos madeireiros e fazendeiros já atingiu um ponto crítico: cerca de 30% de uma reserva Awá legalmente protegida foi desmatada. As florestas dos Awá estão desaparecendo mais rapidamente do que qualquer outra área indígena no Brasil.
O futuro
Quando ele viu uma cidade pela primeira vez, Estrelinha Awá pensava que os habitantes viviam no topo de edifícios, como macacos que dormem na copa das árvores. Ele não conseguia entender por que algumas pessoas viviam nas ruas, e ninguém dava a eles comida ou abrigo.
Se suas florestas são derrubadas, os Awá não têm nenhuma esperança de sobreviver como um povo. Como Lâmina Awá diz, ‘Se você destruir a floresta, você destrói os Awá também.’
Mas, enquanto suas florestas estão de pé, todos os Awá podem decidir como querem viver, e o que eles querem do mundo exterior.
A Survival
A Survival International é a única organização trabalhando pelos direitos dos povos indígenas no mundo inteiro. Somos financiados quase exclusivamente por membros do público e algumas fundações, e não aceitamos dinheiro de governos. Temos apoiadores em quase todos os países no mundo. Durante mais de 50 anos, a Survival tem trabalhado junto dos povos indígenas para proteger suas vidas, terras e direitos.
A produção desta página foi possível graças à ajuda de
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e muitos milhares de apoiadores da Survival no mundo. Agradecemos a todos.