Os Sentinelese são um povo indígena isolado que vive na Sentinela do Norte, uma das ilhas do arquipélago de Andaman e Nicobar, no Oceano Índico. Eles rejeitam veementemente qualquer contato com pessoas de fora de sua ilha.

A Survival International faz campanhas, protestos e utiliza a pressão pública para garantir que o desejo deles de permanecerem isolados seja respeitado.

Caso contrário, todo o povo Sentinelese pode ser exterminado por doenças contra as quais não possuem imunidade.

Sentinelese

O povo indígena mais isolado do mundo

Os Sentinelese são o povo indígena mais isolado do mundo. Eles vivem na Sentinela do Norte, uma ilha densamente coberta por floresta, que tem aproximadamente o tamanho de Manhattan e faz parte de um arquipélago que também abriga outro povo indígena isolado, os Shompen. Eles continuam resistindo a qualquer contato com pessoas de fora de sua ilha, atacando quem se aproxima. 

© Indian Coastguard/Survival
Depois do grande tsunami de 2004, este indígena do povo isolado Sentinelese foi fotografado atirando flechas na direção de um helicóptero.

Em novembro de 2018, John Allen Chau, um missionário estadunidense, foi morto pelos Sentinelese ao tentar invadir a ilha dos indígenas para convertê-los cristianismo. Essa tentativa ilegal de contato poderia ter dizimado todo o povo Sentinelese: indígenas isolados não possuem imunidade contra doenças comuns como a gripe.

Em março de 2025, o influenciador estadunidense Mykhailo Viktorovych Polyakov entrou ilegalmente na ilha por alguns minutos, na tentativa de entrar em contato com os Sentinelese. Ele não viu nenhum indígena, mas deixou uma lata de refrigerante e um coco como “presentes”. Ele foi então preso pelas autoridades indianas e pode ser condenado à prisão. Em uma tentativa imprudente de chamar a atenção nas redes sociais, suas ações ilegais poderiam ter exterminado todo o povo Sentinelese ao introduzir doenças, como a gripe, contra as quais os indígenas isolados não têm imunidade.

Suas ações foram semelhantes a de John Allen Chau, um missionário estadunidense que desembarcou ilegalmente na ilha em 2018 e foi morto por indígenas Sentinelese ao tentar convertê-los ao cristianismo. 

De modo semelhante, em 2006, dois pescadores indianos, Sunder Raj e Pandit Tiwari ancoraram seu barco perto da Sentinela do Norte para dormir, após terem pescado ilegalmente nas águas ao redor da ilha. Eles foram mortos quando o barco se soltou e ficou à deriva até bater na costa da ilha dos Sentinelese. 

Sabe-se que pescadores ilegais atuam nas águas próximas a essa região, capturando tartarugas e mergulhando em busca de lagostas e pepinos-do-mar.

Os Sentinelese têm deixam claro que não querem contato. É uma escolha consciente já que povos indígenas vizinhos foram exterminados por doenças e violência após a colonização britânica de suas ilhas.

A Survival International é a única organização que luta a nível global para impedir o o genocídio de povos indígenas isolados, como os Sentinelese

A ilha de Sentinela do Norte, lar dos Sentinelese, vista aérea.

Como vivem os Sentinelese

A maior parte do que se sabe sobre os Sentinelese foi obtida por meio da observação a partir de barcos ancorados a uma distância de mais de um disparo de flecha da costa da ilha. Essa observação ocorreu em breves períodos no passado, quando os Sentinelese permitiram que as autoridades se aproximassem o suficiente para entregar a eles alguns cocos. Não sabemos como se autodenominam ou como chamam sua ilha, embora o povo indígena vizinho Onge se refira à Sentinela do Norte como “Chia daaKwokweyeh".

Os Sentinelese caçam e coletam alimentos na floresta e pescam nas águas costeiras. Ao contrário do povo vizinho Jarawa, eles constroem canoas estreitas com uma estrutura anexa à sua lateral que garante estabilidade. Esses barcos só podem ser usados em águas rasas, pois são impulsionados com uma vara, como uma balsa.

Eles são um povo nômade e caçador-coletor, e acredita-se que os Sentinelese vivam em três grupos. Eles têm dois tipos diferentes de casas: grandes cabanas comunais, com várias lareiras para diversas famílias, e abrigos temporários, sem paredes, que às vezes podem ser vistos na praia, com espaço para uma única família. As mulheres usam cordas de fibra que amarram nas cinturas, pescoços e cabeças. Os homens também usam colares e faixas na cabeça, mas com um cinto mais grosso na cintura. Eles carregam lanças, arcos e flechas.

© A. Justin, An. S.I.
Os Sentinelese fabricam canoas bem estreitas.

Embora comumente descritos na mídia como sendo indígenas da "Idade da Pedra", isso evidentemente não é verdade. Não há razão para acreditar que os Sentinelese tenham vivido da mesma maneira durante os milhares de anos em que os povos indígenas provavelmente estão nas Ilhas de Andaman. Seus modos de vida provavelmente mudaram e se adaptaram muitas vezes, como acontece com todos os povos. Por exemplo, eles agora utilizam metal trazido pelas correntes ou recuperado de naufrágios nos recifes da ilha. O ferro é afiado e usado nas pontas de suas flechas.

Pelo que pode ser observado à distância, fica claro que os habitantes da Ilha de Sentinela do Norte são extremamente saudáveis e prósperos, diferente do povo indígena Grande Andamanese, a quem os oficiais coloniais britânicos tentaram impor a “civilização”. As pessoas vistas nas margens da Sentinela do Norte aparentam ser fortes e saudáveis.  Observadores frequentemente notam a presença de muitas crianças e mulheres grávidas.

Eles atraíram atenção internacional após o tsunami asiático de 2004, quando um homem Sentinelese foi fotografado em uma praia disparando flechas contra um helicóptero que verificava a situação deles.

© Christian Caron – Creative Commons A-NC-SA
Indígenas Sentinelese, Ilha de Sentinela do Norte, Índia.

Tentativas devastadoras de contato

No final do século XIX, M.V. Portman, o "Oficial Britânico Responsável pelos Andamanese", desembarcou, com uma grande equipe, na Ilha de Sentinela do Norte na esperança de fazer contato com os Sentinelese. O grupo incluía oficiais, prisioneiros e outros habitantes das Ilhas de Andaman que já haviam sido contatados forçadamente pelos britânicos.

O grupo encontrou acampamentos e trilhas abandonadas, mas os Sentinelese não foram encontrados, embora tenham achado o esqueleto de um homem idoso "colocado em um grande recipiente, em uma postura sentada, e escondido nas raízes expostas de uma grande árvore". É possível que os Sentinelese honrem seus mortos dessa forma. Após alguns dias, o grupo viu um casal de idosos e quatro crianças que, "em nome da ciência", foram sequestrados e levados para a casa de Portman em Port Blair, a capital regional. 

Como era de se esperar, logo adoeceram e os adultos morreram. As crianças foram devolvidas à sua ilha com vários presentes.

Não se sabe ao certo quantos Sentinelese adoeceram como resultado dessa tentativa de contato, mas é provável que as crianças tenham transmitido doenças, e os resultados teriam sido devastadores. O trauma intergeracional causado por essa experiência e outras semelhantes provavelmente explica a determinação dos Sentinelese em rejeitar o contato com pessoas de fora.

O próprio Portman refletiria mais tarde:

Podemos dizer que não fizemos mais do que aumentar o medo geral deles e a hostilidade contra todos que venham de fora.
M.V. Portman, Oficial do império Britânico

 

Contato rejeitado

Durante a década de 1970, as autoridades indianas realizaram viagens ocasionais até a Ilha de Sentinela do Norte na tentativa de fazer contato com os Sentinelese. Essas viagens eram frequentemente realizadas a pedido de pessoas de altos setores da sociedade indiana que queriam uma aventura. Em uma dessas viagens, dois porcos e uma boneca foram deixados na praia. Os Sentinelese atiraram flechas nos porcos e os enterraram, junto com a boneca. Essas visitas se tornaram mais regulares na década de 1980; as equipes tentavam desembarcar em um local fora do alcance das flechas e deixavam presentes como cocos, bananas e pedaços de ferro. Às vezes, os Sentinelese pareciam fazer gestos amigáveis; em outras, levavam os presentes para a floresta e, então, disparavam flechas contra o grupo que tentava fazer o contato.

© Survival

Em 1991, parece ter ocorrido uma mudança. Quando os oficiais chegaram à Sentinela do Norte, os Sentinelese sinalizaram para que trouxessem os presentes e, então, pela primeira vez, se aproximaram sem suas flechas. Eles até mergulharam no mar em direção ao barco para coletar mais cocos. No entanto, as interações amigáveis não duraram muito. Embora as viagens para deixar presentes tenham continuado por alguns anos, os encontros eram frequentemente violentos e sempre altamente perigosos para todos os envolvidos. Em algumas ocasiões, os Sentinelese miraram suas flechas na equipe de contato, e uma vez atacaram um barco com seus machados de pedra (uma ferramenta para cortar madeira). Ninguém sabe por que os Sentinelese primeiro aceitaram os presentes e depois retomaram sua hostilidade às missões de contato, nem se algum deles morreu como resultado das doenças contraídas durante essas visitas.

Em 1996, as missões regulares para deixar presentes foram interrompidas. Muitos oficiais começaram a questionar a ideia de tentar contatar um povo que estava saudável e satisfeito, e que havia prosperado sem contato por talvez milhares de anos. O contato teve um impacto devastador sobre os povos vizinhos Onge e Grande Andamanese, que tiveram uma perda populacional de 85% e 99%, respectivamente. O contato contínuo com os Sentinelese certamente teria consequências igualmente terríveis.

Nos anos seguintes, apenas visitas ocasionais foram feitas, que foram novamente recebidas com diferentes tipos de respostas. Após o tsunami de 2004, oficiais realizaram duas visitas para verificar, à distância, se os Sentinelese estavam bem ou se teriam sofrido algum impacto. 

Após uma campanha da Survival e de organizações locais, o governo indiano finalmente abandonou todos os planos de contatar os Sentinelese, e sua posição atual continua sendo que nenhuma tentativa de contato será feita.

Following a campaign by Survival and local organizations, the Indian government finally abandoned all plans to contact the Sentinelese, and their current position is still that no further attempts to contact them will be made.

As visitas foram interrompidas pelo governo. Não queríamos perturbar suas vidas sem nenhum propósito. Os Sentinelese não são um povo agressivo, não atacam seus vizinhos, apenas defendem sua ilha. O governo está comprometido em manter o status quo. Apoio totalmente essa política.
TN Pandit, ex-diretor do Serviço Antropológico da Índia.

Agora, todas as visitas à Sentinela do Norte são estritamente ilegais, e a guarda costeira indiana patrulha uma zona de segurança próxima à costa para impedir que pessoas de fora se aproximem demais.

 

Um "projeto corporativo John Allen Chau" em Grande Nicobar?

Os Sentinelese são o povo indígena mais isolado do mundo, e seus vizinhos distantes, os Shompen, também estão entre os mais isolados. Vivendo na Ilha de Grande Nicobar, na parte mais ao sul do arquipélago das Ilhas de Andaman e Nicobar, a maioria dos Shompen também rejeita contato com pessoas de fora.

© Ministry of Ports, Shipping and Waterways
Projeto do governo indiano para o megaporto de Grande Nicobar, apenas um dos vários empreendimentos de grande porte que devem causar destruição ecológica generalizada na ilha de Grande Nicobar.

Enquanto o governo indiano proíbe estrangeiros de visitar a Ilha de Sentinela do Norte, seus planos para a Ilha de Grande Nicobar são completamente diferentes, já que pretendem transformar essa ilha na "Dubai da Índia".

Mais de três milhões de árvores seriam derrubadas para este projeto de “mega-desenvolvimento” que incluem a construção de um mega porto, uma nova cidade, um aeroporto internacional, uma usina de energia, uma base militar, um parque industrial e 650.000 novos "moradores" – o que representaria um aumento populacional de quase 8.000%.

Os perigos que este projeto representa para os Shompen são enormes. Ao forçar o contato e arriscar o genocídio de um povo indígena isolado, este projeto é efetivamente um ‘John Allen Chau corporativo’ em uma escala massiva. O governo nunca ousaria construir um mega-projeto como esse no território dos Sentinelese,pois sabem que haveria uma grande retaliação pública.

Em fevereiro de 2024, 39 especialistas internacionais em genocídio escreveram ao presidente da Índia descrevendo o plano como uma "sentença de morte" para os Shompen. A Survival se une a eles pedindo ao governo indiano que suspenda este projeto altamente destrutivo.

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