Olimpíadas: Tocha chega à terra de tribo que enfrenta "genocídio"
24 junho 2016
Esta página foi criada em 2016 e talvez contenha linguagem obsoleta.
A tocha Olímpica deve chegar em 25 de junho no Mato Grosso do Sul, onde teme-se que os Guarani estejam enfrentando aniquilação, devido ao roubo sistemático de suas terras, desnutrição, suicídio e violência.
A chegada da tocha no estado do centro-oeste brasileiro é parte de um trajeto ao redor do país antes do início das Olimpíadas no Rio de Janeiro em agosto. A tocha deve ser conduzida por Rocleiton Ribeiro Flores, indígena da tribo Terena, na cidade de Dourados, próxima ao território Guarani.
Na semana passada, um líder Guarani foi morto e diversos outros – incluindo um menino de 12 anos – foram seriamente feridos em um ataque por pistoleiros de fazendeiros na comunidade de Tey’i Jusu.
No dia anterior, a Survival recebeu um áudio através de seu projeto Voz Indígena documentando um outro ataque armado contra a comunidade Pyelito Kuê. Em outra região, outra comunidade, Apy Ka’y, está enfrentando despejo após uma retomada em 2013.
Com os olhos do mundo voltados para o Brasil, muitos esperam que as Olimpíadas conscientizarão a opinião pública global frente a violência genocida, escravidão e racismo que vêm sendo infligidos nos indígenas brasileiros no passado e atualmente, em nome do “progresso” e “civilização.”
Nas ultimas décadas, a maior parte da terra dos Guarani foi roubada pelo destrutivo agronegócio, e eles têm sido forçados a viver à beira de estradas e em reservas lotadas. Crianças Guarani passam fome e muitos de seus líderes foram assassinados. Centenas de homens, mulheres e crianças Guarani se suicidaram e os Guarani Kaiowá sofrem com a maior taxa de suicídio no mundo.
Tonico Benites Guarani, um porta-voz da tribo, recentemente visitou a Europa para pedir uma mobilização internacional frente a situação de seu povo e disse à Survival: “Um lento genocídio está acontecendo. Existe uma guerra sendo travada contra nós. Estamos com medo. Eles matam nossos líderes, escondem seus corpos, nos intimidam e nos ameaçam… Se nada mudar, muitos outros jovens cometerão suicídio, e outros morrerão de desnutrição. A impunidade dos fazendeiros irá continuar e o governo brasileiro vai poder continuar a nos matar.”
Os Guarani tentaram diversas vezes reocupar suas terras, mas foram perseguidos, intimidados e atacados por pistoleiros contratados por fazendeiros.
De acordo com o direito interno brasileiro e internacional, a tribo tem o direito a sua terra. Caso o governo a devolva, eles terão a chance de defender suas vidas, proteger suas terras e determinar seus próprios futuros.
Em abril, a Survival International lançou sua campanha “Pare o genocídio no Brasil” para chamar atenção às ameaças enfrentadas pelos Guarani, à situação das tribos isoladas do Brasil – que estão entre os povos mais vulneráveis do planeta – e à PEC 215, uma proposta de emenda constitucional que, caso aprovada, enfraqueceria os direitos territoriais dos indígenas e resultaria na fragmentação e exploração dos territórios existentes.
Com a chegada das Olimpíadas, apoiadores da Survival ao redor do mundo estão pressionando o governo brasileiro para que devolva a terra dos Guarani, pare a PEC 215, e mapeie fisicamente o território dos indígenas isolados Kawahiva para evitar sua aniquilação.
O diretor da Survival, Stephen Corry disse: “Esse é, sem dúvidas, o ataque mais sério e contínuo contra os direitos dos povos indígenas que o Brasil vê desde o fim da ditadura militar, e está se acelerando. A mídia tem focado na situação política do Brasil às vésperas das Olimpíadas, mas pouco tem sido dito sobre a aniquilação sistemática dos povos indígenas do país através da violação de seus direitos territoriais. Foi o genocídio dos povos indígenas brasileiros que levou à fundação da Survival em 1969, e um progresso enorme foi alcançado desde então. Agora, quase meio século depois, o genocídio está de volta à mesa.”