Um símbolo do genocídio indígena: “o último de seu povo” morre no Brasil

28 agosto 2022

O “último de seu povo” observa de sua cabana – imagem do filme Corumbiara, do cineasta Vincent Carelli. © Vincent Carelli

Faleceu no Brasil o indígena isolado conhecido também como “o homem do buraco”. Ele era o último sobrevivente de seu povo e o único habitante da Terra Indígena Tanaru (RO).

O resto de seu povo provavelmente foi massacrado em uma série de ataques a partir da década de 1970, mas pouco se conhece sobre seu povo, pois ele resistiu a todas as tentativas de contato. Conhecido por pessoas de fora como “o homem do buraco” devido ao seu hábito de construir buracos profundos, alguns com estacas afiadas, ele foi filmado por uma equipe da FUNAI em 2018, durante um encontro inesperado.

A Terra Indígena Tanaru se destaca por ser uma pequena ilha de floresta em um mar de vastas fazendas de gado, em uma das regiões mais violentas do Brasil. A Survival, junto com outras organizações brasileiras, realizou por muitos anos uma campanha para que sua terra fosse protegida. A equipe da FUNAI na região também se empenhou em realizar a proteção territorial necessária para que ele pudesse viver da maneira que escolheu.

Imagem de um "vídeo da FUNAI":https://vimeo.com/280921793/ do “último de seu povo”, filmado durante uma expedição de monitoramento do governo. © FUNAI

Fiona Watson, Diretora de Pesquisa e Advocacia da Survival, visitou o território Tanaru em 2004 com uma equipe de monitoramento da FUNAI e escreveu um relato sobre essa visita.

Ao tomar conhecimento da notícia, ela disse: “Nenhum estranho sabia o nome desse homem, ou mesmo conhecia muito sobre seu povo – e com sua morte o genocídio desse povo indígena está completo. Pois foi realmente um genocídio – a eliminação deliberada de um povo inteiro por fazendeiros de gado famintos por terra e riqueza.

Ele simbolizou tanto a terrível violência e crueldade infligida aos povos indígenas em todo o mundo em nome da colonização e do lucro, quanto a resistência desses povos também. Podemos apenas imaginar os horrores que ele testemunhou em sua vida e a solidão de sua existência depois que o resto de seu povo foi morto, mas ele resistiu com determinação a todas as tentativas de contato e deixou claro que só queria ser deixado em paz.

Se o presidente Bolsonaro e seus aliados do agronegócio conseguirem o que querem, essa história se repetirá várias vezes até que todos os povos indígenas isolados do país sejam exterminados. O movimento indígena no Brasil, a Survival e outros aliados farão todo o possível para que isso não aconteça.”

Terra Indígena Tanaru (RO), lar do “último de seu povo”. © Survival International

O Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Isolados e de Recente Contato pediu que a área da TI Tanaru siga sendo protegida “como um memorial, em respeito à trajetória de resistência de seu residente solitário e para lembrar a todos a tragédia do genocídio indígena — para que não se repita jamais”. A Survival apoia esse pedido.

Fiona Watson está disponível para entrevista. Survival tem fotos e vídeos disponíveis.

Nota aos Editores: A Terra Indígena Tanaru, de 8.000 hectares, é um dos sete territórios no Brasil legalmente protegidos por portarias de restrição de uso. O presidente Bolsonaro e seus aliados há muito fazem campanha para acabar com essas proteções.

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